1953
Brasil, Rio de Janeiro
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Grandes Equipamentos
Colaborador
Ícaro Vilaça
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O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi fundado em 1948 por iniciativa de um grupo de empresários presidido por Raymundo Ottoni de Castro Maya. Inicialmente, o Museu é instalado no Palácio Gustavo Capanema, então sede do Ministério de Educação e Saúde.
Em 1952, a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro aprova proposta de doação de terreno de 40 mil metros quadrados no Aterro do Flamengo para a instituição. Affonso Eduardo Reidy e Burle Marx começam a trabalhar no projeto do Museu em 1953. O Bloco de Exposições só é concluído em 1967, três anos após a morte de Reidy.
Affonso Eduardo Reidy, 1953:
“Se a correspondência entre a obra arquitetural e o ambiente físico que o envolve é sempre uma questão da maior importância, no caso do edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro essa condição adquire ainda maior vulto, dada a situação privilegiada do local em que está sendo construído, em pleno coração de cidade, no meio de uma extensa área que num futuro próximo será um belo parque público, debruçado sobre o mar, frente à entrada da barra e rodeada pela mais bela paisagem do mundo. Foi preocupação constante do arquiteto evitar, tanto quanto possível, que o edifício viesse a constituir um elemento perturbador na paisagem, entrando em conflito com a natureza. Daí o partido adotado, com o predomínio da horizontal em contraposição ao movimento perfil das montanhas e o emprego de uma estrutura extremamente vazada e transparente, que permitirá manter a continuidade dos jardins até o mar, através do próprio edifício, o qual deixará livre uma parte apreciável do pavimento térreo. Em lugar de confinar as obras de arte entre quatro paredes, num absoluto isolamento do mundo exterior, foi adotada uma solução aberta, em que a natureza circundante participasse do espetáculo oferecido ao visitante do Museu.
Nos últimos 40 anos modificou-se muito o conceito do museu, que deixou de ser um organismo passivo para assumir uma importante função educativa e um alto significado social, tornando acessível ao público o conhecimento e a compreensão das mais marcantes manifestações da criação artística universal e proporcionando um treinamento adequado a um contingente de artistas que, perfeitamente integrados no espírito de sua época, poderão influir decisivamente na melhoria dos padrões de qualidade da produção industrial.
Mas não foi apenas o antigo conceito de museu que se transformou: a própria noção do espaço arquitetural modificou-se. O desenvolvimento das novas técnicas de construção deu lugar à ‘estrutura independente’ e, como conseqüência, ao ‘plano livre’, isto é, a função passou a ser exercida apenas pelas colunas; as paredes, liberadas da sua antiga responsabilidade estrutural, passaram a desempenhar, então, com uma liberdade nunca antes imaginada, o papel de simples elementos de vedação: placas leves, de diferentes materiais, livremente dispostas, oferecendo as mais amplas possibilidades na ordenação dos espaços. Surge assim um novo conceito de espaço arquitetural, o ‘espaço fluente’, canalizado, que vem substituir a antiga noção do ‘espaço confinado’ dentro dos limites de um compartimento cúbico.
A ação eminentemente dinâmica do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, abrangendo todas as manifestações das artes visíveis dos nossos dias, requer uma estrutura arquitetural que lhe proporcione o máximo de flexibilidade na utilização dos espaços, possibilitando seja o uso de grandes áreas, seja a formação de pequenas salas, onde determinadas obras possam ser contempladas em ambiente íntimo. A galeria de exposição do MAM do Rio de Janeiro foi projetada com este objetivo: ocupa uma área de 130 metros de extensão por 26 metros de largura, inteiramente livre de colunas, de modo a oferecer absoluta liberdade na arrumação das exposições. Essa área terá pé direito variável: parte com 8 metros, parte com 6,40 metros e o restante estava com 3,60 metros de altura.
A iluminação natural confere um sentido de vida e de movimento aos espaços, beneficiando as obras expostas da variedade de sensações que a luz diurna proporcione. Quando zenital, a luz é difusa e uniforme; não há sombras, não há relevo, o ambiente torna-se neutro, inexpressivo. Quando lateral, dá direção ao espaço e relevo aos objetos, proporcionando ainda ao visitante a possibilidade de contato visual com o exterior. Todavia, um sistema rígido e exclusivo limitaria a liberdade de mostrar, sob as melhores condições, obras que, eventualmente, possam vir a ser valorizadas com iluminação zenital ou mesmo artificial. A galeria de exposições do MAM, nos trechos de menor pé direito, terá iluminação lateral e, nos trechos de pé direito duplo, terá iluminação zenital, através de sheds e lanternins.
O fato da luz natural, de um modo geral, apresentar vantagens sobre a luz artificial na apresentação das obras, não diminui a importância do que esta última representa para o Museu de hoje. A iluminação artificial é evidentemente indispensável, não só para a noite, como para a exibição de objetos que possam ser prejudicados pela luz solar, como desenhos, tecidos etc. A qualidade da luz a ser empregada é um outro ponto de importância num Museu de Arte. A luz incandescente é rica em raios vermelhos e alaranjados, que modificam o aspecto de certas cores. A luz fluorescente, por seu lado, provoca sensação de frieza e altera igualmente o aspecto das cores. A combinação de ambas, porém, permitirá uma grande aproximação ao efeito da luz solar. Para o MAM foi projetado um sistema muito flexível: o teto da galeria de exposição será guarnecido com placas translúcidas de um plástico de vinil, as quais difundirão a luz emitida por tubos fluorescentes, proporcionando uma iluminação suave ao ambiente. A superfície luminosa assim constituída será interrompida de 2 em 2 metros por rasgos transversais, onde serão fixados refletores de luz incandescente, equipados com lentes apropriadas, os quais serão dirigidos exatamente para os pontos em que se fizer necessária a iluminação, sem produzirem reflexos ou ofuscamento ao visitante. Todo o segundo pavimento do corpo central do edifício será destinado a exposições, bem como uma parte do terceiro pavimento, onde ficarão situados, ainda, um auditório com 200 lugares, com equipamentos para projeções cinematográficas, filmoteca, biblioteca, os serviços de administração e direção do Museu e o depósito para a guarda das telas não expostas. Esse depósito, onde as obras deverão ser conservadas em perfeita segurança, terá condições de temperatura e umidade, ficando completamente isolado das variações atmosféricas do exterior. As tela serão fixadas em painéis leves, de correr, ligeiramente afastadas umas das outras, permitindo desta forma, reunir em um espaço reduzido um grande número de telas e assegurando-lhes perfeitas condições de ventilação e facilidade para o exame dos interessados.
Ocupando uma parte do pavimento térreo e o subsolo do corpo mais baixo do edifício, ficarão os serviços e instalações auxiliares do Museu, compreendendo a entrada de serviço, os locais para desembalagem e a identificação e o registro da obras, a expedição, os depósitos, as oficinas e os laboratórios, a sala de gravura e um grande salão onde serão preparadas as exposições. Ainda no pavimento térreo do mesmo corpo, funcionará a Escola Técnica de Criação. Suas instalações compreendem, além dos locais destinados aos serviços administrativos, salas de aula e ateliers diversos, laboratório fotográfico, tipografia, clicheria, encadernação, cantina para estudantes etc. No segundo pavimento desse corpo ficarão o restaurante e o terraço-jardim, que se comunicam com a galeria de exposições.
Na extremidade leste do conjunto ficará situado o teatro, com mil lugares. O palco terá uma largura disponível de 50 metros, 20 metros de profundidade e 20 metros de altura livre até o urdimento. A construção cênica baseia-se num sistema de carros movimentados eletricamente, que se deslocarão para os espaços laterais e de fundo do palco. A boca de cena terá 7,50 metros de altura e 12 metros de largura, podendo chegar a 16 metros em caso de abertura para a realização de concertos sinfônicos.”
Fonte(s): BONDUKI, Nabil Georges. Affonso Eduardo Reidy - Série Arquitetos Brasileiros. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Portugal: Editorial Blau, 1999.
Roberto Burle Marx, 1959:
"A área verde que está sendo feita no aterro de Santa Luzia, e que se estende da praia do Flamengo ao Aeroporto Santos Dumont, dará ao carioca o prazer da promenade à beira-mar, ao mesmo tempo que proporciona local de lazer.
Destes jardins, que serão por nós estudados dentro de um futuro próximo, o do Museu de Arte Moderna foi elaborado tendo em vista a integração do mesmo à paisagem, visualizando a área com características de um parque.
Levamos em conta a área disponível e ordenamos o jardim visando criar limitações espaciais relacionadas com os volumes arquitetônicos. Como elemento básico de pavimentação, foi utilizado o granito em lajes ligado ao mosaico português, onde o “Leitmotiv” é um padrão composto de faixas onduladas em cores róseo e branco, que confere ao mesmo variedade rítmica. O mesmo tema é retomado em superfícies de grama de duas tonalidades, a fim de dar maior unidade à composição.
A palmeira real é usada como elemento ordenador, definindo os espaços, ao mesmo tempo que oferece um contraponto visual no sentido vertical. Procurou-se relacionar as superfícies de cor com os pequenos, médios e grandes volumes de plantas herbáceas, arbustos e árvores, onde as texturas das plantas e dos materiais utilizados se harmonizam. Ao mesmo tempo, as plantas contarão, em certos casos, com superfícies de cor uniforme, obtendo assim maior nitidez na composição.
Num jardim em que é previsto um intenso movimento de visitantes ao Museu, surge o problema de criar áreas de interesse, o que foi resolvido com a criação de locais de estar, terraços, jardins, pátios com fontes, repuxos d’água, locais para exposição de esculturas ao ar livre e grandes gramados que conduzem a vista para a baía, além do emprego de árvores que darão sombra e que, em determinadas épocas do ano, valorizar-se-ão pela sua floração.
Do ponto de vista ecológico, utilizamos plantas que venham a resistir bem aos ventos fortes e ao ar salino. Uma vez terminado o plantio, o tempo e o tratamento devido imcubir-se-ão de realizar o que foi por nós imaginado."
Fonte(s): BONDUKI, Nabil Georges. Affonso Eduardo Reidy - Série Arquitetos Brasileiros. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Portugal: Editorial Blau, 1999.