1957
França
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Verticalização
Colaborador
Ícaro Vilaça
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Em 1945, Le Corbusier estava envolvido com a comissão para o bloco habitacional em Marselha, para o qual propõe a idéia de “unité de grandeur conforme” (unidade de tamanho adequado). O arquiteto diz que está oferecendo para uso nacional e internacional “um protótipo delicado”, com o número considerado ideal de pessoas (cerca de 1600), uma grande variedade de tamanhos de apartamentos, uma rua comercial em pavimento intermediário e outras instalações comunitárias, como uma creche e um terraço público.
A idéia desenvolve-se a partir um diagrama básico: um grande bloco sobre pilotis com um núcleo de circulação vertical ligando três áreas principais de espaço coletivo: a área sob os pilotis, a rua elevada no meio do edifício, e o terraço no topo. Além disso, “ruas internas” a cada três pavimentos, dão acesso aos apartamentos. A dimensão das unidades refletia a crença de Le Corbusier de que as pessoas precisam de espaços pequenos, bem-planejados e equipados com quartos de uso privado além de grandes espaços para recreação e lazer.
A Unité d’Habitation Marseille evoca a imagem de um grande transatlântico, referenciada por Le Corbusier desde Vers Une Architecture. O bloco deveria se auto-alimentar, funcionando autonomamente, como um grande navio. No terraço do edifício, as formas e os usos são muito semelhantes aos de um convés de navio, e as chaminés impõem à silhueta do edifício a inconfundível analogia.
Le Corbusier, 1947:
"Duas formas de habitação de oferecem à sociedade moderna. Ambas estão comprometidas com o grande objetivo de restabelecer o contato entre o homem e a natureza, para restaurar as "leis da natureza" que comandam nossa biologia e nossa psicologia. Uma delas é a cidade jardim horizontal. A outra é a cidade-jardim vertical.
[...]
A cidade-jardim vertical é um dom das técnicas modernas. Fenômeno de síntese arquitetônica, ele remove os resíduos, suporta as mais pesadas tarefas domésticas, ela liberta a mulher de seu cativeiro cotidiano, ela cria um fenômeno social produtivo, onde o individual e o coletivo se equilibram numa distribuição justa das funções da vida cotidiana. Mas é bastante difícil querer convencer as pessoas apenas com argumentos. Os fatos, se for dado tempo suficiente para amadurecer a experiência, serão mais convincentes."
Giulio Carlo Argan, 1964:
"Le Corbusier se encontra numa posição fundamentalmente clássica; é um classicismo sem frisos, ordens, colunas, mas igualmente certo dos valores fundamentais, em certo sentido, igualmente naturalista: o equilíbrio dos volumes, o harmônico desdobrar-se das superfícies, a clareza das linhas simples e das proporções claras, a ‘beleza’ do problema bem colocado são apenas o segredo de um novo acordo entre o homem e o mundo natural.
Tudo, para ele, torna-se fácil, lógico espontâneo: talvez demais. Renascem os problemas: se os novos meios da técnica produtiva podem assegurar o bem-estar e a felicidade universais, por que então as guerras se sucedem às guerras, e aquela técnica produz canhões em vez de casas? [...] O seu ideal urbanístico – utópico acordo entre as duras exigências da civilização moderna e uma natureza idílica, solar, mediterrânea – é a Ville Radieuse, uma espécie de cidade do sol; mas a Unité d’habitation que, após décadas de luta, consegue finalmente realizar em Marselha é só a comemoração desse ideal, nada mais senão a forma menos inatural e desumana do aglomerado das cidades industriais modernas. O seu ideal é a ordem, mas uma ordem formal, que supera os problemas em vez de enfrentá-los na sua concretude."
Anatole Kopp, 2002:
"Para a equipe composta por jovens arquitetos em torno de Le Corbusier – como para o próprio – a unidade de habitação Marselha serviu para demonstrar que a ‘Ville Radieuse’ não era uma visão idealista, mas uma possibilidade real dos novos tempos e da sociedade maquinista, que eles acreditavam que se desenvolveria na França.
[...]
Le Corbusier não projetou, como se esperava, um bairro da cidade radiante, mas uma unidade de moradia, considerada pelo ministro como experimental, e constituída por cerca de 300 unidades de habitação, podendo acomodar cerca de mil e duzentas pessoas e um certo número de 'extensões do lar' (comércio, equipamentos destinados às crianças, ginásio, hotéis, etc)"